Retomando Junho de 2013 e as lições aprendidas
Junho de 2013... lá se vão 10 anos. Parte da esquerda, mas não só, afirma que 2013 trouxe o ovo da serpente: deu início a tomada das ruas pela extrema direita. Cronologicamente podemos dizer que os “camisas da seleção” tomaram as ruas na esteira das manifestações de 2013 pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, dando assim fôlego às forças conservadoras, fundamentalistas e reacionárias que até aquele momento eram parcialmente contidas dentro do Parlamento pela centro esquerda e seus aliados de ocasião. Mas 2013 foi muito mais complexo e afirmar tal coisa é simplificar um evento multifacetado. A extrema direita entendeu o poder das ruas, um catalizador dos ressentimentos e queixas da sociedade e a concertação histórica das forças políticas brasileiras teve a chance de formar uma nova composição. Lembrar também que para outros, o marco da extrema direita é o fato de Aécio Neves questionar as urnas que tinham dado a vitória apertada à Dilma Rousseff.
Mas como uma esquerda engessada, institucionalizada, conseguiria ler as ruas? O que queriam de fato aquelas pessoas? Era uma pergunta corrente. Em choque, o governo olhava pela TV o que acontecia e não conseguiu nem de longe entender e, portanto, dar respostas coerentes.
Importante sempre lembrar que os militantes saem das ruas, devido também a uma repressão violenta da polícia. As forças policiais, como em muitos outros momentos da história, usaram de truculência para coibir as manifestações, deixando um rastro de mortes e criminalização. Enquanto que nos atos que se seguiram da extrema direita, ela era escoltada, com até foto ao lado dos policiais. Spray de pimenta, bala de borracha, bombas de efeito moral, vigilância digital e criminalização de militantes foram táticas e meios empregados pela polícia para conter as manifestações. Houve também um aparato legislativo para essa repressão. Em 2013, foi aprovada a lei por associação criminosa e em 2016 a Lei Antiterrorismo. O medo das consequências tornou-se palpável entre os militantes.
As Jornadas de Junho provocaram um remeximento dentro do espectro da esquerda. A pluralidade dos corpos nas ruas também trouxe uma nova estética política, no qual as artes e a comunicação seriam ponta de lança para sacudir mentes e corações. Foram esses novos coletivos culturais, ativistas das periferias e favelas, jovens estudantes que irão questionar com veemência o poder político dos homens brancos de meia idade de sempre.
2013 retoma a lição, aprendida historicamente por mulheres negras, jovens periféricos, povos indígenas e alguns outros, de que há um poder nas ruas para subverter a ordem e propor novos arranjos políticos e sociais. Hoje a pergunta é como voltar a ela. Não parece ter fôlego essa empreitada se a todo momento o medo da cooptação pela extrema direita nos rondar e o dever de silenciamento para manutenção da governabilidade do novo governo. Mas devemos ter a capacidade de propor na esfera pública novos imaginários de sociedade baseados no respeito pelas diferenças e diversidade.